quarta-feira, 21 de agosto de 2013

MANIFESTAÇÕES – JORNALISTAS NA GUERRA URBANA

Defesanet
por Liane Fraga
Primeira matéria de uma série que analisa as relações imprensa x Forças de Segurança e Imprensa x Manifestantes
Jornalistas e fotógrafos profissionais e os recém incorporados nas manifestações de Junho em São Paulo. Foto - WEB
Nota DefesaNet

A superfície estava serena,  não indicava, nem prenunciava o vulcão que estava em ebulição, no interior da sociedade. Como uma válvula de escape, baseado em motivos, que se perdem na sequência dos eventos e a eles são acrescidos muitos outros, nos meses de junho e julho irromperam manifestações, tumultos, guerra urbana, ainda não conseguimos um termo preciso.

DefesaNet tem procurado tratar do assunto do ponto de Segurança Pública e a Liberdade dos Cidadãos e a Sociedade.  Com uma biruta indicando para onde o vento soprava, muitos pontos para análise surgiram assim como muitas posições e opiniões trocaram de lado.

Esta série de quatro artigos preparados pela jornalista Liane Fraga trata das relações: Imprensa x Forças de Segurança e por último da própria Imprensa com os manifestantes.

O Editor
A jornalista da Folha, Giuliana Frange Vallone, cujas imagens circularam pelas mídias, foi ferida no olho. Foto - WEB

No mês de junho de 2013, o país se viu em um mar de distintas pessoas que levantavam variadas bandeiras nas ruas. Após alguns protestos isolados pelos estados, o início de tudo ocorreu devido ao aumento da passagem de ônibus em algumas capitais como Rio de Janeiro, Goiânia, São Paulo. Na última cidade, as manifestações começaram no dia 6 de junho, uma quinta-feira, em razão do aumento de R$ 0,20 (vinte centavos de real) no preço do transporte público.

Depois disso, houve outros dois protestos (dias 7 e 11 de junho) para então chegarmos ao dia que marca a pulverização dos locais pela luta da redução da passagem como também a ampliação dos cartazes com variados objetivos. Junto com São Paulo, Maceió, Natal, Porto Alegre, Rio de Janeiro, e outras diversas cidades pelo país registraram protestos no dia 13 de junho.

Até a manifestação de quinta-feira (13/06), a grande imprensa estava declaradamente contra as manifestações. O editorial do mesmo dia do jornal Folha de São Paulo retrata um pedido de força da parte da polícia para resolver o impasse:
 

“Os poucos manifestantes que parecem ter algo na cabeça além de capuzes justificam a violência como reação à suposta brutalidade da polícia, que acusam de reprimir o direito constitucional de manifestação. Demonstram, com isso, a ignorância de um preceito básico do convívio democrático: cabe ao poder público impor regras e limites ao exercício de direitos por grupos e pessoas quando há conflito entre prerrogativas. O direito de manifestação é sagrado, mas não está acima da liberdade de ir e vir --menos ainda quando o primeiro é reclamado por poucos milhares de manifestantes e a segunda é negada a milhões.”
Aquela noite acabou com 19 jornalistas, sendo sete da Folha de São Paulo, feridos em um contexto inusitado de falha de regras de operação em ambos os lados: o pouco preparo da imprensa, em situação de conflitos e enfrentamentos urbanos, e das Forças de Segurança no controle de vandalismo e depredações. No meio da manifestação, o fotógrafo parceiro da Agência Futura Press, Sérgio Silva, levou uma bala de borracha no olho esquerdo fraturando a órbita ocular e teve o risco de perder a visão. Também, naquela noite, a jornalista da Folha, Giuliana Frange Vallone, cujas imagens circularam pelas mídias, foi ferida no olho.
 

A posição clássica da PM, em ações de Controle de Tumultos. Porém a fluidez das ações levou a muitas situações totalmente fora do controle. Foto WEB

No dia 15 de junho, a Folha de São Paulo publicou no editorial um repúdio a violência que a imprensa sofreu começando ali uma alteração do discurso até então empregado. Até o dia 24 de julho, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) contabilizou 58 casos de agressões a jornalistas nas manifestações. De acordo com a entrevista para o DefesaNet do presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Celso Schröder, afirma que a profissão do jornalista não é de risco. “Porém, às vezes estamos em situações de risco. Para isso, devemos estar treinados”, salienta.

Depois desses acontecimentos do dia 13, as inscrições para o 12º Curso de Informação sobre Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência, promovido pelo OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações e Artes junto com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e a ABRAJI, registrou mais de 700 inscritos. Isso mostra a consciência dos profissionais por capacitação especializada.
 

Junto com a imprensa, muitas pessoas registravam os momentos sem ser vinculado ou credenciado a um meio de comunicação. Esse material foi amplamente divulgado na internet, porém, para isso, alguns manifestantes tomavam posições ao lado da imprensa para relatar os acontecimentos. Como a imprensa se identifica normalmente só com o crachá e seu equipamento de trabalho dificulta os órgãos de segurança na identificação dos jornalistas. Uma exceção disso é a Agence France-Presse (AFP) que tornou obrigatória a utilização de capacetes com o escrito “press” para destacar os profissionais nas manifestações.

A guerra urbana travada nos finais das manifestações em junho e julho deixou claro que há muito despreparo dos jornalistas em zonas de conflitos. Profissionais que tinham algum treinamento e experiência em situações de riscos souberam trabalhar com segurança e qualidade. O fotógrafo da Zero Hora, Lauro Alves, afirma que o treinamento de Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPB), mantido pelo Exército Brasileiro, voltado a jornalistas para atuarem em áreas de conflitos colaborou para fazer o seu trabalho de forma segura. “Enquanto muitos colegas de profissão tossiam, outros procuravam abrigo, eu estava protegido há uns 40 mim”, relata.

A falta de Regras de Engajamento (Rules of Engagement - RoE ) claras  e de treinamento para as ações da imprensa e das Forças de Segurança, a série de jornalistas feridos, que levou a os editorias a mudarem a sua posição  e também a Opinião Publica, é de extrema importância.

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