terça-feira, 6 de agosto de 2013

Fiscalização após tragédia em Santa Maria (RS) aumenta segurança nas casas noturnas em Joinville

Notícias do Dia
por João Batista da Silva

Após seis meses do acidente na boate Kiss, vistorias devem continuar nos estabelecimentos da cidade

Os amigos André (E) e Pedro perceberam muitas mudanças depois das fiscalizações
Seis meses se passaram desde a tragédia na boate Kiss, em Santa Maria (RS), e do início do trabalho da Comissão de Fiscalização e Segurança de Joinville para vistoriar os locais que concentram muitas pessoas e com os maiores riscos de acidentes. Depois da passagem dos fiscais por mais de 60 estabelecimentos, entre os quais 40 sofreram interdição, a avaliação de quem fiscaliza, freqüenta e oferece os serviços é de que a diversão na noite está mais segura e há maior preocupação pelo cumprimento das exigências.

“As condições de segurança melhoraram. A fiscalização deu uma consciência aos donos de estabelecimentos para estar com a documentação em ordem. A comissão tem recebido até pessoas que estão se antecipando às pendências”, informou o gerente da Secretaria de Proteção Civil e Segurança Pública, André Fernandes, observando que, em muitos casos de interdição, era puro descuido dos proprietários. “Infelizmente precisou acontecer uma tragédia primeiro. Agora os empresários estão mais cientes das obrigações”, destacou o coordenador de vistorias do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville, Telmo Wiemes.
Embora sem saber mensurar o impacto econômico das interdições no setor, o presidente do Sihrbes (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Joinville e Região), Bernardo Kuerten, considerou que a melhor conseqüência foi em evidenciar a necessidade de prevenção e pela regularização das casas. “Quem tem uma casa precisa investir na segurança de quem ele recebe. Todas as casas que abrem têm que ter os alvarás”, defendeu, destacando que, independentemente das fiscalizações, cada um deve fazer a sua parte.

Divisor de águas
Diretor do primeiro estabelecimento interditado pela comissão de fiscalização, Christian Marquardt, do Bovary Snooker Pub, reaberto em março, avalia que o episódio em Santa Maria foi um “divisor de águas” para que todos se preocupassem mais com a segurança nas casas. “E não só por parte dos empresários, mas do poder público, de todas as áreas”, ressaltou. Segundo, ele o acidente impactou tanto no mercado, quanto no público e na forma de fiscalização.
“Foi um ícone de mudança na forma de ser pensar as coisas da noite. As mudanças tinham que ser feitas. Se viu que muita coisa estava errada”, apontou. Christian lembra que, antes do caso da Kiss, não havia qualquer problema com os requisitos de segurança exigidos para o estabelecimento que administra, mesmo considerando a falta de fiscalização. Após o caso da Kiss, no entanto, a exigência de uma saída de emergência a partir da vistoria dos fiscais motivou o fechamento da casa. O diretor esclareceu que deu uma resposta rápida ao seu público, fez as reformas para readequação e pode reabrir o local semanas depois.
O Bovary instalou uma nova porta exclusiva para saída, reformou a parte elétrica e refez o isolamento acústico, além de outras melhorias de caráter estético. “As pessoas tem que se sentir seguras e isso hoje nós proporcionamos. Com todas as reformas, o público se sente mais seguro e pode ser divertir com tranquilidade”, destacou, sobre a aprovação do público pelas melhorias.

Frequentadores atentos
Entre os frequentadores de bares e casas noturnas, predomina a percepção de que a tragédia de Santa Maria provocou numa preocupação maior com a segurança em todo o país, por parte dos órgãos de fiscalização, dos clientes e dos donos de estabelecimentos. “Se tivesse acontecido aqui seria a mesma coisa. Infelizmente tem quem acontecer uma tragédia para se ficar alerta”, observa o empresário Pedro Paulo de Lucca Junior, 28. Segundo ele, as fiscalizações que fecharam diversos locais na cidade foram importantes para as casas se adaptarem.
Hoje, Pedro se sente mais seguro em frequentar seus locais preferidos, como o Bovary, que passou por reformas e foi reaberto. “Não viria se não mudassem”, atestou. O também empresário André Schneider, 28, avalia que as fiscalizações fizeram diferença e que as melhorias foram além das questões de segurança. “Ficou interessante na questão da segurança mas outras coisas como isolamento acústico e melhorias no atendimento foram feitas por causa das fiscalizações”. Marlon Bruhn, 33, fez observação semelhante. “Aumentou a segurança nas casas e também o respeito pelo público. O atendimento ganhou qualidade, os garçons estão mais qualificados e os frequentadores são mais bem orientados”, disse.
Por outro lado, os próprios clientes estão se atentando mais para as condições de segurança nos locais. “Antes ninguém parava para pensar nisso. Hoje a pessoa já fica mais atenta, fica mais preocupada. As consequências do acontecimento foram importantes para alertar as pessoas”, considerou Pedro. Para o colega André, a tendência é que as preocupações gerem uma mudança mais profunda a longo prazo. “Acho que isso acaba mudando a cultura. A tendência é se preocupar cada vez mais com a segurança”, concluiu.
A comerciante Flávia Ravali, 22, lembrou que a cidade tinha poucas casas adequadas conforme a exigências antes da tragédia, o que ficou evidenciado com as interdições feitas pela comissão de fiscalização da Prefeitura. Embora considerando que antes as pessoas “não ligavam muito” se as normas de segurança eram cumpridas pelos estabelecimentos, ela frisa que, por ser claustrofóbica, sempre ficava de olho na superlotação e na existência de saídas de emergência. “Em muitos lugares a gente se sentia numa caixa fechada. Agora percebemos a necessidade que tinha, mas antes ninguém se atentava para os problemas”.
Com as fiscalizações, Flávia avaliou que as casas passaram a observar os limites de lotação e se adequaram com a instalação de saídas de emergência, dois problemas considerados mais críticos por ela. A fiscalização mais intensa nas primeiras semanas após o episódio de Santa Maria, no entanto, não deve ser deixada de lado. “Só espero que a fiscalização não diminua para que não aconteça outra tragédia novamente”, afirmou.

Comissão continua ativa
Após seis meses da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria (RS), o trabalho da Comissão de Fiscalização e Segurança de Joinville, criada em função do episódio, ficou menos intenso, mas deve voltar às ruas neste mês. A última operação que gerou novas interdições foi em junho, enquanto que no mês passado, foram feitas fiscalizações noturnas nos estabelecimentos. “A comissão continua indo para a rua com menos intensidade, mas o trabalho segue da mesma forma, não vai parar”, afirmou o gerente da Secretaria de Proteção Civil e Segurança Pública, André Fernandes.
No último balanço da comissão, entre 65 locais vistoriados, 40 sofreram interdição, dos quais pelo menos 12 já reabriram, outros 10 estão em processo de regularização e cinco continuam abrindo de forma irregular. Para esses últimos casos, os procedimentos prevêem novas notificações, multas e prisão dos responsáveis. “É preciso reunir toda a documentação necessária para encaminhar à Polícia Civil”, informou Fernandes, exemplificando um dos trabalhos administrativos demandados. “Estamos revendo muitos processos internos. O trabalho da comissão não é só ir para a rua”, esclareceu, destacando que a preocupação nas últimas semanas tem sido atender quem está tentando se adequar.
Embora a meta inicial seria passar por 300 locais, a secretaria considerou que a prioridade das vistorias, com foco em locais de venda de bebidas alcoólicas, entre bares, lanchonetes, clubes e casas noturnas, foi alcançada. “Os estabelecimentos com maiores riscos foram vistoriados”, disse Fernandes. Ele explicou que vistorias em escolas e igrejas, uma das propostas iniciais, não serão feitas pela comissão, mas tratadas em separado conforme a atribuição de cada órgãos fiscalizador.
“Chegamos ao entendimento de que em alguns locais a comissão não precisaria ir. A comissão foi criada com um foco específico e não poderia estar englobando as funções de outros órgãos”, apontou. A comissão é formada por órgãos de fiscalização da Prefeitura, Bombeiros, Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), Polícia Civil e Polícia Militar.

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