terça-feira, 8 de outubro de 2013

[CASO DE SUSPEITA DE FRAUDE] - Modelo catarinense nega participação em suposta fraude e afirma que pagou um preço alto só por ser bonita

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por Guilherme Mazui

Luciane Hoepers garante a idoneidade dos fundos de investimentos alvos de investigação

Luciane demonstrou desenvoltura com percentuais e siglas do mercado financeiro durante a entrevista (Foto: Marcelo Wink / Agencia RBS)
Loira de olhos verdes, corpo torneado, bronzeado e ornado por tatuagens, a catarinense Luciane Hoepers, 33 anos, estava acostumada a estampar sites e revistas masculinas. Desde 19 de setembro, passou a frequentar o noticiário policial.

Natural de Joinville, eleita bela do Avaí em 2012, a modelo e administradora ganhou notoriedade ao ser presa em Brasília pela Polícia Federal durante a OperaçãoMiqueias, há menos de um mês, que desbaratou uma quadrilha suspeita de lavar dinheiro e fraudar fundos de pensão de prefeituras.

O esquema, liderado por um doleiro, teria o envolvimento de, pelos menos, três deputados federais. Investigada por quase dois anos, a quadrilha teria lavado cerca de R$ 300 milhões e causado prejuízo de R$ 50 milhões a fundos previdenciários municipais. A organização chamou atenção por ostentar uma frota de carros de luxo, entre eles uma Ferrari e uma Lamborghini apreendidas. 

Definida pela PF como "pastinha", Luciane usaria os atributos físicos para se aproximar de prefeitos e gestores de fundos de pensão a fim de oferecer vantagens em troca de investimentos com rendimentos duvidosos, que seriam administrados pela própria quadrilha.

Após cinco dias de prisão, Luciane passou a ser chamada de "Musa do Crime". Alcunha que tenta combater. Em entrevista ao Diário Catarinense, ela garante a idoneidade dos fundos de investimentos e nega acusações de pagamento de propina ou sedução de políticos. Ainda pede desculpas aos torcedores do Avaí pela exposição negativa do clube. 

::: Confira os principais trechos da entrevista

Diário Catarinense — Segundo a Polícia Federal, você integrava uma quadrilha que aliciaria prefeitos e gestores de fundos de previdência. Propina e sedução estariam entre os argumentos para convencer os políticos. As suspeitas são verdadeiras? 

Luciane Hoepers — Foi criado um sensacionalismo em cima da operação. Nunca admiti propina ou caso amoroso com prefeito. Nosso trabalho era limpo, legal. Eu tenho registro na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para apresentar os fundos de investimento. 

DC — Mas os fundos eram fraudulentos?

Luciane — Os fundos de pensão dos municípios têm dificuldade de bater metas. O capital é centrado em bancos públicos, com títulos em queda, déficit pago pelo contribuinte. Sugeríamos diversificar a carteira, aplicar em fundos privados e aumentar a rentabilidade. Todos sabem que o mercado financeiro vive de risco. Todos os fundos eram estruturados, com captação mínima de R$ 50 milhões, autorizados por órgãos competentes. Não eram fraudulentos.

DC — Vocês se valiam da beleza para abordar os prefeitos?

Luciane — O Brasil tem preconceito com mulher bonita. As meninas foram escolhidas pela capacidade, foi pura coincidência serem bonitas. Também havia três meninos, mas o sensacionalismo foi em cima das meninas. Não existia sedução. Existia contato com deputados e prefeitos em Brasília, que é o centro do poder. A gente participava de encontros de prefeitos para sugerir investimentos e marcar apresentações aos gestores dos fundos de pensão.

DC — Você é natural de Joinville. Como mudou-se para Brasília?

Luciane — Cresci em Joinville, venho de uma família de seis irmãos. Com 12 anos já vendia cocada na vizinhança para auxiliar lá em casa. Tive um filho com 18 anos, me formei em Administração, fui casada por oito anos, administrava a empresa do meu marido na cidade. Mas o casamento decaiu e terminou de forma traumática. Em 2010, decidi recomeçar minha vida em outro lugar. Primeiro tentei o Rio de Janeiro, depois Brasília.

DC — Você trabalhou como modelo no Rio de Janeiro?

Luciane — Trabalho como modelo desde os 18 anos, mas sempre conciliei com estudos e carreira de empresária. Fiquei um mês no Rio e fiz programas de TV, como Casa Bonita e Zorra Total, mas não me agradou. Foi quando vim a Brasília deixar currículos. Trabalhei por um ano em uma empresa e depois recebi o convite da Invista (envolvida na Operação Miquéias).

DC — Qual a sua relação com o doleiro Fayed Traboulsi, que seria o chefe do esquema?

Luciane — Brasília tem um círculo muito fechado de pessoas influentes e eu fazia parte desse grupo, convivia com eles, assim como várias outras mulheres e pessoas. Tenho relação próxima com ele (Fayed) e com outras pessoas envolvidas na operação. 

DC — Como foi a sua prisão?

Luciane — Eu estava indo fazer um ensaio fotográfico em São Paulo quando fui presa no hotel. Fiz um depoimento de 12 horas e outro de seis. Fiquei dois dias presa na Polícia Federal e outros três na penitenciária feminina, chamada de Colmeia. Uma cela apertada, com 57 presas. Os agentes tratam as pessoas como cachorros. É uma lição de vida. É o fim de carreira, o fundo do poço.

DC — Como tem sido a rotina após a prisão?

Luciane — Eu achava que estava no inferno, mas descobri que lá foi meu purgatório, porque o inferno vivo aqui fora. Durmo a base de remédios, perdi peso. Meus pais não sabiam que eu estava sendo presa. Disse que estava indo a trabalho para Europa. No final eles souberam da pior forma possível, pela mídia, quando eu estava sendo solta. 

DC — Você conseguiu falar com seus pais depois da prisão?

Luciane — Eu só chorava, pedia perdão por ter exposto eles assim. Vi todos os telejornais falando de mim. Falavam só da Luciane. Ficou como se eu fosse a dona da empresa, a dona das Ferraris, dos Iates de R$ 6 milhões. Foram mais de 20 presos e eu apareci mais.

DC — Incomoda a alcunha de "musa do crime"? Você recebeu convites de revistas masculinas?

Luciane — Incomoda, conseguiram expor a minha família. Como eu já tinha feito ensaios, recebi propostas com valor grande, mas não crio qualquer expectativa de sair em revista. Se eu sair fotografando, cai por terra todos os meus argumentos. Quero limpar a minha imagem.

DC — Você mora em um dos melhores hotéis de Brasília, o Golden Tulip. Como você custeia suas despesas?

Luciane — Meus pais estão me ajudando. Estou sem dinheiro, com os bens bloqueados, só ando de táxi. O hotel custa R$ 3 mil por mês, era um contrato de um ano. Quem está pagando parte é meu advogado. Desde março estou trabalhando para ele na parte administrativa do escritório. Vinha ganhando R$ 7 mil. 

DC — Você chegou a negociar com algum fundo de pensão catarinense?

Luciane — Fiz visitas a alguns institutos de previdência própria de Santa Catarina. Em alguns deles a gestora do fundo me acompanhou, deixamos os números de rentabilidade, um procedimento legal.

DC — Todas as acusações são falsas?

Luciane — Eu não diria nada. Acho que as coisas estão sendo apuradas, que a Justiça vai ver os fatos. Eu defendo a minha inocência. Até que se prove, são especulações. Quero recuperar minha imagem. Paguei um preço muito alto só por ser bonita.

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