Desembolso mundial sobre queda, mas emergentes começam a substituir ricos em gastos militares
Jamil Chade, de O Estado de S.Paulo
GENEBRA - Pela primeira em 15 anos, os gastos militares no mundo sofrem uma
contração, puxados pela crise na Europa e Estados Unidos. Mas governos
latinoamericanos, China e Rússia continuam a expandir seus investimentos em
armamentos, no que seria para os especialistas o início de uma transição em
termos de gastos militares dos países ricos aos emergentes.
O Brasil registrou uma leve queda em 2012, de 0,5%. Mas o País tem o 11º
maior orçamento militar do mundo e, em dez anos, o aumento de gastos militares
no Brasil foi de 56%, bem acima da média mundial. Na América Latina, a Venezuela
dobrou seus gastos militares em dez anos e, apenas em 2012, o aumento foi de
42%. O Paraguai teve a maior expansão, com 43% em um ano.
Os dados globais registraram uma contração de 0,5%, com um total de US$ 1,75
trilhão e a primeira queda desde 1998. As informações foram publicadas pelo
Instituto de Pesquisas da Paz de Estocolmo, que insiste que, ainda assim o
volume é superior ao pico de gastos durante a Guerra Fria.
Mas o que mais chama a atenção é a disparidade entre países ricos e
emergentes. Em crise e cortando gastos militares, Estados Unidos e Europa ainda
registraram uma redução em seus efetivos no Iraque e Afeganistão. Os americanos
ainda lideram o ranking e tem gastos 5 vezes o da China, cerca de US$ 682
bilhões. Mas, em 2012, a contração no Pentágono foi de 6%. Pela primeira vez
desde o colapso da URSS há mais de 20 anos, os americanos tiveram uma
participação inferior a 40% nos gastos militares mundiais.
Na Europa, membros da OTAN reduziram em 10% os gastos militares por conta da
crise, o que leva os pesquisadores e acreditar que haverá uma contração nos
investimentos totais mundiais ainda nos próximos 3 anos.
Mas os países emergentes vivem uma situação bem diferente. Na China, quinto
maior exportador de armas e segunda maior em termos de gastos militares, o
aumento de seus investimentos foi em 7,8% em 2012 e um total de US$ 166 bilhões.
Em dez anos, a expansão foi de 175%, ainda que Pequim insista que não existe
motivo para o mundo temer suas ambições militares. Na Ásia, Vietnã, Filipinas e
outros governos ampliaram de forma substancial seus gastos militares.
A terceira posição mundial é da Rússia, com um aumento de 16% em apenas um
ano e US$ 90 bilhões em gastos. Isso tudo no ano do retorno de Vladimir Putin à
presidência.
Na América Latina, o aumento de gastos foi de 4,2%, apesar de uma redução dos
investimentos no Brasil de US$ 36 bilhões em 2011 para US$ 33,1 bilhões no ano
passado. O Brasil representa metade dos gastos da região e destina 1,5% do PIB
às Forças Armadas, bem acima de países como Alemanha.
Entre 2003 e 2012, o aumento de gastos nacionais foi de 56%, bem superior ao
aumento média de 35% no mundo. Mas os especialistas apontam que a expansão
nacional sofreu uma desaceleração desde 2009.
No restante da região, os gastos aumentaram na Argentina, Chile, Colômbia e
Peru. Na Venezuela, a expansão foi de 42% e, em dez anos, o governo de Caracas
dobrou o orçamento aos militares, atingindo US$ 4 bilhões em 2012. O México
também incrementou gastos em 9%, diante da guerra contra o narcotráfico.
"O que estamos vendo é o que pode ser o começo de uma transição no equilíbrio
dos gastos militares mundiais dos países ricos do Ocidente para regiões
emergentes", indicou Sam Perlo-Freeman, um dos autores do informe. Dos 11
maiores orçamentos mundiais, quatro são dos países que formam o grupo dos
Brics.
No Oriente Médio, os gastos em 2012 aumentaram em 8% diante da revoluções e
da guerra na Síria. Arábia Saudita e Omã registraram os maiores aumentos.
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