quarta-feira, 1 de maio de 2013

Redução da maioridade penal ganha apoio nacional

Notícias do Dia

Escalada do crime entre adolescentes obriga a sociedade a debater novamente o tema

Reportagem de Colombo Souza, Fábio Bispo e Rose Ane Silveira
Geovana Borba, 42, nunca vai esquecer o dia 16 de outubro de 2012, quando os sonhos da família se reduziram a um punhado de lembranças. Naquela noite, como em todas as outras, ela aguardava a chegada do marido, o policial civil Maurino Paulo Borba. “Era sempre igual, ele chegava, eu estava na sala, via o portão abrir e ia para porta recebê-lo”, conta a mulher. Mas ela nunca mais teve a oportunidade de dar boa noite a Bila. Antes de descer do carro, o po­licial foi surpreendido por três adolescentes que anunciaram um assalto. Ao empunhar a pistola que carregava na cintura, foi alvejado por pelo menos três tiros, morrendo na ga­ragem de casa. Os jovens —com idades entre 14 e 17 anos— fugiram sem levar nada.
Geovana sabe que nada trará o compa­nheiro de volta, mas defende o endureci­mento das leis para punir adolescentes au­tores de crimes como homicídio e latrocínio. “O mais velho completou 18 anos três meses depois do crime. Acho que se eles tiveram condições de vir aqui e matar uma pessoa eles têm também o dever de responder por isso como os adultos”, desabafa a mulher diante da casa que foi construída pelo casal há dois anos. Três dias depois do crime, os adolescentes se entregaram à polícia com medo de serem punidos na mesma moeda, ou seja, com a morte.
Nesta semana, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), entregou aos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados o projeto de lei que prevê punições mais rígidas para menores de 18 anos, assinado pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). A proposta pede que as alterações sejam feitas dentro da própria lei existente, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Defensores e opositores do ECA mais uma vez se abrem ao debate, que envolve complexa cadeia de entendimentos sobre a própria juventude e a violência.
Mudanças para o ECA
Marcus Vinícius Fraile, 34 anos, delegado da Delegacia de Re­pressão a Roubos de Florianópolis, assaltado recentemente por um adolescente de 17 anos armado, é contra a redução da idade penal, mas defende a aplicação de uma punição mais forte no Estatuto da Criança e Adolescente para garotos que praticam crimes hediondos: la­trocínio, homicídio, estupro, roubo e sequestro.
                                    Menores não ficam tempo suficiente para recuperação
Na opinião do delegado, as contenções e o direito de liberdade terão que quer mais rígidos. “Eles ganham benefício de saída tempo­rária para visitar familiares, com prazo de retorno, mas não voltam e continuam roubando e assaltan­do”, sublinhou.
O garoto de 17 anos que sacou um revólver calibre 38 e apontou para o delegado Fraile que falava ao telefone, dentro do Gol estacio­nado na rua Estilac Leal, em Coqueiros, Florianó­polis, estava com manda­do de busca e apreensão ativo pela Justiça de Pa­lhoça. No primeiro mo­mento, Fraile levantou as duas mãos e saiu do carro. Quando o suspeito tentou dar partida no Gol, Frai­le deu voz de prisão. O adolescente reagiu, mas foi parado com uma bala no ombro.
“Se ele tivesse contido não te­ria se envolvido na ocorrência”, comentou. O delegado denuncia grande número de menores envol­vidos em ocorrência e lembrou que recentemente um colega foi assas­sinado ao chegar em casa, no bair­ro Passa Vinte, Palhoça, por três garotos armados.
O assassinato foi investigado pelo delegado de Palhoça Attílio Guaspari Filho, 33. Attílio também trabalhou em outro brutal crime, no qual um pai e dois filhos foram mortos a golpes de barra de ferro e a marretadas. “Dos cinco sus­peitos, dois eram adolescentes”, ressaltou. Ele lembrou que o triplo homicídio foi encomendado por um traficante de drogas, vizinho da vítima, no início de 2012. O cons­trutor Gelson Aparecido de Souza instalou uma câmera de na frente da casa que fla­grava a movimentação do tráfico.
Ele não tirou o equi­pamento, bateu boca com o traficante e dias depois foi executado num galpão em obras junto com dois filhos pequenos: Gean Vitor e Vitor Henrique.
“Eu fiz furto, tráfico, roubei”
Confinado há 33 dias no Plantão de Atendimento Inicial, em Florianópolis, o adolescente L. de 17 anos, contou que o desejo consumista o levou “ construção da longa lista de infrações. “Eu fiz furto, tráfico, roubei, tenho uma tentativa de homicídio e fui pego roubando por aí”, contou à equipe de reportagem do programa Educação e Cidadania da Record News, na semana passada. “Não quero mais ficar no mundo do crime, queria trabalhar, mas é embaçado. Minha mãe não tem dinheiro, somos pobres”, alega.
Defensores dos direitos da criança e do adolescente acreditam que não existe saída melhor para o problema que a prevenção, mas acabam vendo seus argumentos se dissiparem no turbilhão de ocorrências quase que diárias envolvendo adolescentes. “Eles prendem num dia e no outro soltam. Não existe ressocialização assim”, conta uma vítima de assalto a mão armada no Norte da Ilha. Dados da Polícia Militar revelam que 15% dos crimes cometidos na Capital têm envolvimento de adolescentes.
Para a juíza Brigite Romor de Souza May, que atua na Vara da Infância e Juventude da Capital, e é contrária ao endurecimento das leis para adolescentes envolvidos no crime, a “lei só é usada quando é conveniente”, no momento de prender. “Na sala de audiência, quando o jovem senta para falar, o que vejo é sujeito sem garantia de seus direitos”, afirma.
Cabeça voltada para o crime
“O garoto em conflito com a lei quando entra num reformatório para menores infratores, ele já chega com a cabeça pronta, voltada para o crime”. A frase é do policial civil Fernando Luiz da Silva, 41 anos, que foi monitor no extinto Centro São Lucas, entre 2003 e 2006. “A maioria reincide no crime”, afirma.
A favor a redução da maioridade penal, o policial contou que depois que passou no concurso da Polícia Civil, já prendeu mais de 20 jovens de quem cuidou na época em que era monitor no São Lucas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI O SEU COMENTÁRIO !

ACOMPANHE JOINVILLE AO VIVO !

Escolha o Idioma